diHITT - Notícias Arolde de Oliveira: Na política, nem a vitória nem a derrota são definitivas

quarta-feira, 14 de março de 2012

Na política, nem a vitória nem a derrota são definitivas

Na primeira eleição às vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, os eleitores ingleses surpreenderam o mundo ao darem maioria no Parlamento ao Partido Trabalhista. Com isso, mandaram Churchill (foto a esquerda) para casa, e fizeram de Clement Attlee o novo primeiro ministro do governo. A derrota de Churchill foi uma surpresa. Ele havia sido o grande líder, não só da Inglaterra mas da democracia, na guerra contra o nazi-fascismo. Com sua liderança levou uma Inglaterra hesitante para a guerra nos oceanos e no norte da África, acolheu voluntários das nações derrotadas, enfrentou os bombardeios aéreos, o risco da invasão, e, de 1939 a 1941, sustentou sozinho a guerra contra Hitler.
Não fez campanha eleitoral para as eleições de 1945. Fazia tournées triunfais pelo país, onde era invariavelmente saudado como o grande líder e herói nacional. Na realidade, para o povo, aquelas manifestações não significavam apoio político, e sim o agradecimento pelos serviços que prestara à nação durante a guerra. Para os novos tempos queriam outros líderes identificados com outras prioridades e outras políticas. A derrota de Churchill, nesta eleição tornou-se o exemplo emblemático de que nenhuma vitória é definitiva na política, assim como nenhuma derrota. Alguns anos mais tarde Churchill retorna ao poder como primeiro ministro do governo.
Dia 6 de novembro de 1962. Na Califórnia, Nixon (foto abaixo), tendo sido derrotado na eleição para o governo do estado, faz uma declaração: "Deixo-vos agora, e vocês vão escrever isto. Mas quando eu os deixar, quero que pensem no quanto estão perdendo. Vocês não terão mais Nixon para se divertir, pois esta é a minha última entrevista para a imprensa..." . A frase de Nixon correu os EUA, e a cena gravada foi repetida por todas as estações de TV. Mais do que a derrota (a segunda em 2 anos), foi a pública manifestação do seu imenso ressentimento contra os jornalistas (mas também contra os eleitores), que sepultou a carreira política de Nixon.
Sepultou? Apenas 6 anos mais tarde Nixon seria eleito Presidente, não porque tenha se atirado à disputa, mas porque foi "convocado" por um sentimento coletivo que o queria na Presidência. Nixon provou, de sua parte, que nenhuma derrota é definitiva, mesmo quando o derrotado assim a declara. Numa eleição democrática, por definição, a grande maioria das pretensões eleitorais é derrotada. Disputa-se, portanto, não apenas para ganhar o cargo, mas também para conquistar posições, tornar-se conhecido, formar ou preservar seu patrimônio político.
Há derrotas que parecem definitivas, quando acontecem. As derrotas de Churchill e de Nixon, recém descritas, são exemplos antológicos. Os próprios líderes derrotados as recebem como finais e definitivas, como o fim de uma carreira. Nixon chegou a desistir da política em 1962, para retornar triunfante e se tornar presidente dos EUA. Não obstante, tanto Churchill como Nixon, assim como muitos outros casos, passados alguns anos, foram reinstalados no poder. Independentemente do que pensaram e sentiram, há um fator com o qual não contam no momento da derrota, mas que opera em seu favor: o tempo.
Se um político conseguiu ser conhecido, por suas obras e por suas idéias, da maioria do eleitorado, e, se sua passagem pela vida pública foi intensa e produtiva, ele continuará sendo uma referência política e, conforme as circunstâncias, uma alternativa política. O tempo e o momento histórico têm o poder de ressuscitar carreiras políticas que pareciam mortas, quando na verdade estavam em hibernação.
Ocorreu com Nixon e Churchill, como ocorreu com De Gaulle e Mitterrand, com Perón e Getúlio. Houve o momento em que o povo os mandou para casa, e passados alguns anos, o povo foi buscá-los e os entronizou novamente no poder. O tempo e as circunstâncias políticas podem operar este feito. A passagem do tempo e a decepção com as novas experiências fazem com que as arestas deixadas sejam aparadas e se reconstrua uma imagem predominantemente positiva do líder. As circunstâncias políticas podem buscá-lo da hibernação e reposicioná-lo como uma alternativa para o momento.
Que a vitória também não é definitiva é mais fácil de entender. Numa democracia a eleição é sempre um chamado à renovação e à mudança. A reeleição, ou a continuidade político-administrativa de um governo ocorre, com maior frequência, em duas situações:
1 - quando há uma aguda crise (econômica, política, ou militar), que vem sendo enfrentada energicamente pelo governo;
2 - quando o governo em exercício tem muito sucesso no seu desempenho, sobretudo naquelas questões mais priorizadas pela população.
No primeiro caso forma-se uma unidade em torno do governo que barra as divisões políticas. Primeiro há que resolver a crise, que é percebido como um desafio suprapolítico. No segundo caso é o temor de mudar para pior, aquilo que está funcionando bem e satisfazendo a maioria, que sustenta a pretensão da continuidade. Fora destas duas situações, a regra é a mudança no governo.

Francisco Ferraz, para o site Política para Políticos.

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