Senadores do Conselho de Ética trocam insultos aos gritos de ‘boneca’, ‘menina’ e ‘palhaço’. Relatório que pede a perda do mandato do presidente da Casa terá votação aberta, quarta-feira
BRASÍLIA - A votação pela cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi adiada para quarta-feira e não será secreta. A leitura do relatório no Conselho de Ética do Senado foi tensa, com senadores trocando ofensas aos gritos. Tasso Jereissati (PSDB-CE) insultou Almeida Lima (PMDB-SE): “Calma, boneca. Calma, menina. Você é um palhaço e está vendido”.
Almeida é um dos três relatores do processo, aliado de Renan, e defendia o arquivamento, alegando falta de provas. Os outros dois relatores — Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-ES) —, porém, pediram a cassação por quebra de decoro. A votação teve que ser adiada porque outros dois aliados de Renan, Wellington Salgado (PMDB-MG) e Gilvam Borges (PMDB-AP), pediram vista, para analisar o mérito.
O presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), também é aliado de Renan e tinha determinado votação secreta, mas sua decisão foi derrubada por 10 votos a 5 — uma primeira vitória da oposição. “O voto aberto é pela transparência e pelo temor de que alguns senadores sejam pressionados a trocar o voto”, disse Demostenes Torres (DEM-GO). Aliados de Renan ainda pretendem recorrer ao Supremo Tribunal Federal para mudar a forma de votação. Pela manhã, ato liderado pelo PSOL reivindicou a votação aberta, exibindo manifesto com 60 mil assinaturas e faixas com frases como “Quero saber como meu representante vota”.
Renan Calheiros é acusado de receber dinheiro de um lobista de empreiteira para pagar pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de 3 anos. Com 73 páginas, o relatório diz que perícia da Polícia Federal comprova que Renan não tinha recursos para pagar a pensão e o acusa de mentir não só ao Conselho de Ética, mas também à nação, já que teria feito um pronunciamento da tribuna do Senado dando falsas explicações para justificar seus rendimentos. Se o Conselho aprovar o relatório, o processo seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa e, se aprovado, será votado por todos os senadores no plenário.
Antes do bate-boca entre Tasso Jereissati e Almeida Lima, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) criou polêmica ao acusar o advogado de Mônica Veloso, Pedro Calmon Filho, de procurá-lo, em maio, pedindo que ele convencesse Renan Calheiros a pagar R$ 20 milhões para que Mônica encerrasse o assunto e não divulgasse detalhes do relacionamento. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), alertou que “não se pode misturar esse assunto no processo. Tentativa de extorsão tem que ser comunicada ao Ministério Público”.
‘Se V. Ex.ª sabe bater na mesa, também sei’
O bate-boca no Conselho de Ética do Senado começou porque Almeida Lima não aceitava que seu parecer fosse apenas voto em separado dentro do relatório dos outros dois relatores. O regimento da Casa, porém, não permite que haja dois relatórios num mesmo processo. Como ele era minoria, seu texto foi lido, mas não será votado. O PSDB queria evitar até a leitura.
“Grandes democratas vocês são! Não querem me deixar ler um relatório de quatro páginas”, criticou o senador, ficando de pé. Tasso Jereissati levantou a voz, pedindo calma, e Almeida Lima reagiu: “No grito não! Se Vossa Excelência sabe bater na mesa, eu também sei. Estão querendo me castrar!”.
Artur Virgílio (PSDB-AM) entrou na discussão: “Senador, ninguém quer lhe castrar. Nem na palavra nem em outro jeito”. No mesmo instante, Tasso se pôs de pé: “Calma, boneca! Calma, menina!”. Almeida Lima ficou mais nervoso — “Senador, esse trejeito não lhe fica bem” — e completou: “Vocês são uns palhaços”. Tasso deu murros na mesa, devolvendo o insulto: “Você é um palhaço. Deixa de palhaçada, rapaz, você é um vendido”. Ambos tiveram que ser contidos, e o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha, interrompeu a sessão por alguns minutos.
O Conselho de Ética existe para zelar pelo decoro parlamentar — um conjunto de normas de conduta a serem seguidas por senadores e deputados e inclui a proibição de expressões que configurem crime contra a honra.
O Dia Online